Uma das regiões mais nobres de Brasília, a Asa Norte está perdendo espaço para as drogas. Os traficantes e usuários, que antes atuavam na calada da noite, hoje já não se intimidam com o movimento intenso de pessoas em plena luz do dia. A presença constante de viciados nas quadras faz a violência aumentar em larga escala. Entre os comerciantes, difícil encontrar quem nunca teve seu estabelecimento furtado ou roubado. De acordo com eles, o perfil dos criminosos é quase sempre o mesmo: jovens maltrapilhos, sob efeito de drogas e portando armas de baixo calibre ou objetos cortantes.
Durante dois dias, o Correio percorreu a Asa Norte. Na tarde da última quarta-feira, na SQN 308, a Polícia Militar abordou um deficiente que usa muletas. Ele era suspeito de traficar entorpecentes e, inclusive, já foi detido uma vez. Dois PMs fizeram revista minuciosa na mala que ele carregava, mas nada encontraram. Um dos militares, que pediu para não ser identificado, comentou que é difícil dar o flagrante. “Esses caras que fazem o tráfico formiguinha, são espertos. Eles nunca ficam com a droga. Nós temos fortes indícios da atuação deles, mas não podemos prendê-los sem a prova material do crime”, comentou.
O porteiro de um bloco da 313 Norte conta que a quadra já foi mais problemática à noite, mas ressalta que, atualmente, é possível ver meninos e meninas de classe média consumindo cigarros de maconha nos “pontos cegos” dos prédios. “Isso aqui já foi uma cracolândia à noite. Ficavam mais de 15 pessoas fumando crack(1) nos muros dos prédios. A polícia começou a vir aqui várias vezes e acabou com essa bagunça. O que tem hoje são filhinhos de papai que vêm de outras quadras fumar maconha. Eles sentam debaixo das árvores, ou nas pontas dos prédios, onde não há movimento de pessoas, sempre no fim da tarde”, relatou o funcionário.
Na SQN 302, a calçada sob um toldo de uma lanchonete que fechou as portas recentemente é o lugar escolhido por moradores de rua para consumo de crack. O garçom de um restaurante, localizado ao lado, diz que as reclamações dos frequentadores são recorrentes. “Alguns clientes ficam assustados com isso. Normalmente, eles (viciados) se reúnem mais à noite, quando fechamos, mas, vez ou outra, algum deles para aí na hora do almoço e acende o cigarro de maconha ou crack sem nenhuma cerimônia. Fora que ficam pedindo dinheiro para todo mundo que passa”, denunciou.
No entanto, o ponto mais crítico da Asa Norte fica nas proximidades do Teatro Nacional, onde adultos, adolescentes e até crianças usam entorpecentes sem nenhuma preocupação. Na quinta-feira última, dois garotos, aparentando não ter mais de 12 anos, consumiram duas pedras de crack. Eram por volta de 16h30 e eles não pareciam incomodados com o trânsito de pessoas no local. No mesmo lugar, um rapaz vestido com uma camiseta de um projeto social do Governo do Distrito Federal produzia um cigarro de maconha e consumia ali mesmo. Quando percebeu que estava sendo fotografado, tirou do bolso uma máquina e começou a fingir que estava registrando imagens do ambiente.
Também na última quinta-feira, no gramado próximo ao Teatro Nacional, nem mesmo a presença de três motocicletas da Polícia Militar inibiu um grupo de 11 jovens. Eles usavam crack antes de o dia terminar, justamente o horário de maior movimento na região. Quando a droga acabou, um deles foi para o semáforo mendigar. Os trocados que conseguiu dos motoristas foram investidos em pedras, que ficam guardadas com um homem de blusa azul, aparentemente o organizador do comércio clandestino.
Para o presidente do Conselho Comunitário da Asa Norte, Raphael Rios, o crescente aumento na criminalidade no bairro é reflexo da expansão das drogas. “As pessoas assaltam para roubar R$ 50, R$ 100. É o típico crime que o ladrão comete para sustentar o vício. Já virou uma questão de saúde pública o tráfico de drogas aqui na Asa Norte, e não apenas de segurança. Não falta apenas policiamento. Faltam também políticas públicas voltadas para o tratamento dos usuários, oferecer educação e lazer para que eles não se envolvam com isso. Ainda não chegamos ao fundo do poço, mas se uma ação inteligente não for feita, em breve estaremos lá, pois a Asa Norte passa por um dos piores momentos da sua história”, afirmou Raphael.
1 - Apreensões crescem
As apreensões de crack no Distrito Federal subiram 175% no ano passado em comparação com o ano anterior, de acordo com a Polícia Civil. A droga age no sistema nervoso central, provocando aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremores, excitação, maior aptidão física e mental. Os efeitos psicológicos são euforia, sensação de poder e aumento da autoestima. Seu consumo pode levar à morte.
FONTE: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/08/09/cidades,i=206696/ASA+NORTE+E+REFEM+DO+TRAFICO.shtml
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