quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Drogas sintéticas viram moda

Ecstasy, LSD, GHB, Rouphinol e lança-perfume embalam festas de jovens ricos

Irene Oliveira

Há algo de novo nas noitadas do brasiliense. O ecstasy, conhecido como pílula do amor, cada vez mais experimentado por jovens da classe média em raves e boates, aparece agora na versão líquida. É o GHB (gamma-hidroxibutirato), mais uma porta de entrada para os iniciantes no mundo das drogas. Com marketing de substância inofensiva, que provoca euforia sem causar dependência, a droga é experimentada pelos jovens da classe média nas baladas do Distrito Federal.

O estudante, que se identificou apenas como Jefferson, contou como foi sua experiência com a nova droga. “Estava com um copo de suco quando um amigo chegou, pingou uma gota no meu copo e disse para eu provar, dez minutos depois minha visão embaçou e fui tomado por uma euforia e muita disposição, comecei a achar tudo engraçado na festa, a onda só passou quase duas horas mais tarde, quando comecei a sentir dores pelo corpo e muito mal-estar”, relatou.

A nova droga, assim como o ecstay, apresenta uma peculiaridade: aumenta o consumo de água e reduz o desejo de beber álcool. Isso porque, segundo o farmacêutico e bioquímico Nilo Miranda Bezerra Júnior, drogas sintéticas como ecstay, LSD e GHB aumentam consideravelmente a temperatura do corpo e, em consequência, a sede. O calor chega a níveis alarmantes e pode até causar hipertermia maligna. “Usuários destas drogas chegam a beber dois litros de água em menos de duas horas”, disse.

De acordo com a polícia, o GHB é acondicionada em frascos de colírio ou solução nasal e durante as festas as gotas são vendidas aos jovens, por, em média, R$ 50. No Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba há registro de apreensões de GHB pela Polícia Federal desde 2003, quando começou a ser usada no Brasil. Já nos Estados Unidos começou a ser consumida nos anos 1980 em academias, mas sua venda foi proibia em 2000, quando 60 mortes tiveram como causa o uso da droga.

No Brasil, a Portaria 344, de 12 de maio de 1998, da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), trás na lista B1 o GHB como psicotrópico de venda permitida com prescrição médica. O GHB é um pó que ao ser diluído ganha aspecto transparente e sem cheiro, apenas o sabor, segundo especialistas, é salgado. O efeito do GHB é rápido. Em alguns minutos já é possível sentir a euforia.

Segundo especialistas, o GHB atua no cérebro e aumenta a atividade do corpo e a capacidade muscular, e reduz o sono, daí ser usado por frequentadores de academias de ginástica e baladas.

Em 2003, houve registro da morte de um jovem por overdose de GHB em Curitiba. Já no meio artístico, o ator americano River Phoenix morreu, em 1993, aos 23 anos, após overdose da droga.

EFEITOS

Segundo o farmacêutico e bioquímico Nilo Miranda Bezerra Júnior, tanto o ecstasy, quanto o GHB causam a reabsorção da serotonina, dopamina e noradrenalina no cérebro, causando euforia, sensação de bem-estar, falta de inibição, aumento da libido e alterações da percepção sensorial. “Em contrapartida os riscos de problemas são incontáveis e altíssimos, sobretudo se o uso da droga for combinado com grandes quantidades de bebidas alcoólicas”, alertou.

O bioquímico destacou que após o uso da droga os efeitos são hipertermia, náuseas, vômito, taquicardia e depressão. “Ainda estuda-se o perigo de desenvolvimento de doenças psicóticas pelo uso contínuo, como a esquizofrenia”, assinalou.

De acordo com a National Institute on Drug Abuse (Nida), a composição do GHB é predominantemente depressora do sistema nervoso central, assim como o Rouphinol. Estudos feitos pelo instituto apontam que a droga pode causar insuficiência respiratória, deixando o paciente em coma. Esses casos geralmente ocorrem quando o GHB é consumido junto com bebidas alcoólicas.

Parentes de vítimas de overdose com o GHB criaram nos Estados Unidos uma organização não governamental que faz campanha contra o uso da droga. O site da entidade - www.projectghb.org - exibe fotos de jovens mortos e lista mais de 200 casos relacionados ao GHB.

NO DF

O GHB é novo no Distrito Federal. De acordo com a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) da Polícia Civil ainda não houve nenhum registro de apreensão da droga na capital. “Sabemos que o GHB é um psicotrópico cuja venda é permitida pela Anvisa com prescrição médica. Entretanto nunca fizemos apreensão nem recebemos denúncia sobre o uso ou venda do GHB, disse João Emílio Ferreira de Oliveira, coordenador da Cord.

Apesar do surgimento de novas drogas, segundo João Emílio a maconha ainda continua sendo a mais consumida, e mesmo com os usuários usando droga sintética a maconha não é deixada de lado.

João Emílio Oliveira destacou que durante um congresso sobre drogas sintéticas em Florianópolis, em 2005, delegados comentaram que no Rio de Janeiro e em São Paulo jovens da classe média alta usavam GHB em boates e festas rave, sempre em frascos de colírio para facilitar a mistura da gota com a bebida, e que era uma droga da elite.

“Nunca apreendemos GHB, mas as drogas sintéticas que a Coord já apreendeu sempre foi com usuário ou traficante de classe média alta”, comentou o delegado. “Em 2007, prendemos o Danielzinho, morador do Lago Norte, com 9.020 micro pontos de LSD.”

As festas raves já foram muito divulgadas no DF. João Emilio Oliveira lembra que o ecstasy, em 2004, chegou a custar R$ 80, e o preço da água nessas festas era elevado devido à sede que a droga causa. “Hoje, quase não se ouve falar em rave e o preço da droga caiu; tanto o LSD, quanto o ecstay custam em média R$ 25”, afirmou. “São drogas de uso muito pontuais, que atingem um universo pequeno, por isso não focamos nelas.”

Crack é epidemia nacional

Especialistas afirmam que as características básicas de consumo e produção das pedras de crack as colocam na condição de epidemia nacional. Deixou de ser taxada, por exemplo, como droga de pobre, para também ser usada pelos mais ricos. O coordenador de Repressão às Drogas da Polícia Civil, João Emílio Ferreira de Oliveira, concorda. "Tal situação vem mudando e o crack passou a ser usado e abusado, já agora, também por dependentes químicos de classes sociais diferenciadas", comentou.

Ele disse que o crack já ganhou muitos adeptos da classe média alta aqui no Distrito Federal e tem deixado pais desesperados. “Temos notícia de vários usuários da classe média, inclusive um jovem do Plano Piloto que abandonou a família para viver nas ruas, aqui no setor central de Brasília, por conta do crack. Muitos pais fazem contato conosco sem saber o que fazer.”

O avanço das drogas segundo o delegado, é responsabilidade da sociedade em que vivemos. “A última caminhada contra as drogas que aconteceu no Parque da Cidade reuniu dez pessoas, enquanto que a marcha pela liberação da maconha reuniu mais de cem”, lamentou.
Fonte:TRIBUNA DO BRASIL

0 comentários: